Vi este texto referenciado num comentário no site do cinema2000. Procurei a sua fonte e aqui vai o texto:
CULTURA CIENTÍFICA VERSUS CULTURA LITERÁRIA (ou cultura das artes do espectáculo)
Em poucas palavras, o problema resume-se a isto: quem não leu ou nem sequer ouviu falar do último livro de José Saramago (pode ser outro escritor relevante e popular qualquer) é un ignorante da pior espécie. Mas quem não faz ideia de qual seja a última grande descoberta no campo da biotecnologia, ou nem sequer se lembra do Teorema de Pitágoras, é apenas alguém com má memória e não muito dado a essas bizarrices de investigação científica. Aliás, científica só a ficção e de autores consagrados.
Esta dualidade na análise do que é ignorância origina uma valorização desigual dos ramos do conhecimento dos ramos do conhecimento. Poderia não vir mal ao mundo que assim fosse, até porque os cientistas são gente que se dá mal, por norma, com os holofotes da fama, são discretos e prezam a relativa obscuridade em que desenvolvem o seu trabalho.
A obscuridade em que os cientistas deste país vivem e desenvolvem trabalho não favorece o desenvolvimento da sua actividade. Pelo menos, por duas ordens de razões. Em primeiro lugar porque as actividades científicas são em larga medida financiadas pelo Estado, pelo que é obrigação democrática os cidadão saberem onde é gasto o dinheiro dos impostos. O Estado tem de prestar contas sobre onde gasta o dinheiro e há uma avaliação a fazer das opções tomadas: em segundo lugar, só se tornando pública a actividade científica poderá crescer, não só porque haverá mais gente interessada em fazê-la, mas também porque a pressão social para que ela se desenvolva é maior.
Encontrar o tom e a forma de tornar interessante uma matéria científica é difícil e parece não haver o necessário esforço para o fazer. Como a ignorância científica é vasta e profunda, a comunicação fica mais difícil, porque até os conceitos básicos não são perceptíveis.
Por outro lado, como os jornalistas, que medeiam a mensagem entre o cientista emissor e o público receptor, também não fazem a mínima ideia do que seja um protão, evitam ter de mostrar essa ignorância, pelo que fazem de conta que tal actividade não existe.
E é assim que chegamos ao ponto de os cientistas só falarem uns com os outros e não com a sociedade. É verdade que há uma outra razão para a relevância dada à cultura das artes do espectáculo. É que estas geram receitas directas pelo seu consumo. Pagamos bilhetes nos cinemas, nos teatros e nos museus. Gastamos fortunas nas livrarias, em cd’s e em dvd’s. Compramos equipamentos caros de som e imagem para usufruir desses bens culturais em casa.
A ciência não se consome no momento em que é trabalhada e talvez isso faça toda a diferença.
Um país não se faz só de poetas.
Nem de cientistas.
Valha a verdade, que a poesia é necessária ao sonho e sem sonho não há avanço.
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